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  11. <title>Conversa Literária &#8211; por Fátima Soares</title>
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  14. <description>Os textos falam por si sós</description>
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  21. <title>A esperança que louva-a-deus</title>
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  24. <pubDate>Sun, 05 Apr 2020 12:22:05 +0000</pubDate>
  25. <dc:creator><![CDATA[Fátima Soares]]></dc:creator>
  26. <category><![CDATA[Sem categoria]]></category>
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  29. <description><![CDATA[Domingo, 5 de abril de 2020, 8 horas da manhã. Dia, mês e ano da pandemia. Eis que um lindo dia se inicia. O sol, ainda tímido, começa a banhar os espaços, e desço do meu apartamento para a área interna do prédio, à sua busca. Caminhando devagar, observo as plantas, o céu e o [&#8230;]]]></description>
  30. <content:encoded><![CDATA[<p><a href="http://conversaliteraria.com.br/wp-content/uploads/2020/04/IMG_20200405_080119695-1.jpg" rel="attachment wp-att-474"><img class="alignnone size-medium wp-image-474 aligncenter" src="http://conversaliteraria.com.br/wp-content/uploads/2020/04/IMG_20200405_080119695-1-225x300.jpg" alt="IMG_20200405_080119695 (1)" width="225" height="300" srcset="http://conversaliteraria.com.br/wp-content/uploads/2020/04/IMG_20200405_080119695-1-225x300.jpg 225w, http://conversaliteraria.com.br/wp-content/uploads/2020/04/IMG_20200405_080119695-1-768x1024.jpg 768w" sizes="(max-width: 225px) 100vw, 225px" /></a></p>
  31. <p>Domingo, 5 de abril de 2020, 8 horas da manhã. Dia, mês e ano da pandemia.</p>
  32. <p>Eis que um lindo dia se inicia. O sol, ainda tímido, começa a banhar os espaços, e desço do meu apartamento para a área interna do prédio, à sua busca.</p>
  33. <p>Caminhando devagar, observo as plantas, o céu e o silêncio que ainda reina enquanto as pessoas ainda estão adormecidas. Nesse caminhar, louvo a Deus pela beleza da natureza. Tudo está em seu lugar. As plantas e flores vicejam no jardim e, suavemente, balançam ao molejo do vento suave, como em reverência ao Criador. Alheias ao caos que se instalou no mundo humano, elas cumprem o seu destino de sempre: nascer, florescer e morrer. Depois de lançada a semente, no tempo certo, surge minúscula, mas forte, e, naquele espaço, ganha corpo e robustez, e cresce e floresce, e dá flor ou fruto, de acordo com a sua natureza. Sua sina é não parar, não desistir para cumprir o propósito de existir até o tempo que lhe foi proporcionado.</p>
  34. <p>Observando e pensando, traço um paralelo entre o ser humano e a natureza, pois ambos têm o mesmo propósito no mundo: nascer, crescer e morrer, e, embora a natureza não disponha da racionalidade presente no mundo humano, percebo que, talvez, por isso, ela tenha maior capacidade de aceitação de tudo que lhe acontece, porque de nenhuma forma ela se revolta. Ainda que o fogo varra uma floresta, causando vasta destruição, eis que, com o passar do tempo, o verde novamente vai forrando a terra crispada pelas cinzas&#8230;</p>
  35. <p>De repente, no corredor do prédio onde a luz do sol não se infiltra, no chão frio do mármore, eis que vejo um louva-a-deus parado em direção à luz do sol.</p>
  36. <p>Miro o louva-a-deus, que honra o nome pela posição ajoelhada sobre as duas patinhas dianteiras, em atitude de oração, paralisado por horas, no chão frio de mármore sem nenhum alimento&#8230;</p>
  37. <p>O que ele está querendo me dizer? Que em meio à frieza, à dureza, à ausência, há um propósito. Ainda que seja levar a esperança àqueles que se deparam com ele.</p>
  38. <p>Exatos sessenta minutos depois, saio do apartamento e retorno ao lugar onde ele se encontra. Batizado de esperança, lá está ele na mesma posição e no mesmo lugar, enfatizando que a esperança não desiste&#8230;</p>
  39. ]]></content:encoded>
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  44. <title>UM HOMEM CHAMADO JOSÉ</title>
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  47. <pubDate>Fri, 14 Feb 2020 16:32:57 +0000</pubDate>
  48. <dc:creator><![CDATA[Fátima Soares]]></dc:creator>
  49. <category><![CDATA[Sem categoria]]></category>
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  52. <description><![CDATA[           Elisa, minha filha caçula que acabou de conquistar a maioridade ao completar 21 anos, está reproduzindo, no desenho, a foto dos meus pais quando jovens, para presentear a minha mãe que fará 92 anos de idade, e que, muitas vezes, não mais se reconhece nas fotos&#8230; Ao esboçar os traços [&#8230;]]]></description>
  53. <content:encoded><![CDATA[<p style="text-align: center;"><a href="http://conversaliteraria.com.br/wp-content/uploads/2020/02/pais2.jpg" rel="attachment wp-att-463"><img class="alignnone size-medium wp-image-463" src="http://conversaliteraria.com.br/wp-content/uploads/2020/02/pais2-225x300.jpg" alt="pais2" width="225" height="300" srcset="http://conversaliteraria.com.br/wp-content/uploads/2020/02/pais2-225x300.jpg 225w, http://conversaliteraria.com.br/wp-content/uploads/2020/02/pais2-768x1024.jpg 768w, http://conversaliteraria.com.br/wp-content/uploads/2020/02/pais2.jpg 960w" sizes="(max-width: 225px) 100vw, 225px" /></a>          <a href="http://conversaliteraria.com.br/wp-content/uploads/2020/02/pais3.png" rel="attachment wp-att-464"><img class="alignnone size-medium wp-image-464" src="http://conversaliteraria.com.br/wp-content/uploads/2020/02/pais3-197x300.png" alt="pais3" width="197" height="300" srcset="http://conversaliteraria.com.br/wp-content/uploads/2020/02/pais3-197x300.png 197w, http://conversaliteraria.com.br/wp-content/uploads/2020/02/pais3-672x1024.png 672w, http://conversaliteraria.com.br/wp-content/uploads/2020/02/pais3.png 715w" sizes="(max-width: 197px) 100vw, 197px" /></a></p>
  54. <p style="text-align: left;">Elisa, minha filha caçula que acabou de conquistar a maioridade ao completar 21 anos, está reproduzindo, no desenho, a foto dos meus pais quando jovens, para presentear a minha mãe que fará 92 anos de idade, e que, muitas vezes, não mais se reconhece nas fotos&#8230;</p>
  55. <p style="text-align: left;">Ao esboçar os traços da face do meu pai, pergunta-me de chofre: “Como era o seu pai?”</p>
  56. <p style="text-align: left;">Respondo imediatamente com duas rimas de sentido contrário: carinhoso e nervoso, e penso: como definir uma pessoa? E até que ponto tenho o direito de delimitar traços de personalidade de alguém se desconheço as minhas atitudes diante de situações nunca experienciadas? Sou capaz de imaginar as atitudes que eu teria, porém, a emoção de vivê-las ainda é desconhecida e, assim, ao misturar a razão com a emoção, não sei ao certo qual delas se imporá com mais afinco&#8230;</p>
  57. <p style="text-align: left;">Mas meu pai era um sujeito extremamente movido pelas emoções. Emocionava-se com facilidade, não se importando com as lágrimas que rolavam pelo seu rosto. Não sentia vergonha de expressar o amor que nutria pela família. Era presença constante na casa dos pais, no interior, nas férias escolares dos filhos. Quando sua mãe contraiu um câncer, chorava ao ouvir a fita cassete que gravara dos encontros familiares. Visitava-a constantemente quando, em suas viagens a trabalho, estava mais próximo da cidade em que os pais moravam.</p>
  58. <p style="text-align: left;">Talvez, também por isso, morreu “do coração”. Dizia que não suportaria ir ao enterro da mãe. Foi poupado: morreu antes dela, aos 43 anos, repentinamente, de insuficiência cardíaca&#8230;</p>
  59. <p style="text-align: left;">Mas também era muito nervoso. Dotado de grande organização, irritava-se com facilidade quando encontrava coisas fora do lugar: “qualquer dia desses, acharei os sapatos dentro do fogão&#8230;”</p>
  60. <p style="text-align: left;">Era caixeiro viajante e eu, muitas vezes, arrumava a sua mala. A forma de dobrar as roupas, o lugar correto de colocar cada peça, os apetrechos de higiene pessoal, tudo tinha seu lugar designado e muito organizado.</p>
  61. <p style="text-align: left;">Talvez, essa “perfeição”, essa disciplina (trabalhador incansável e responsável, cumpria rigorosamente os horários) impedia-o de ser mais condescendente com os outros que pensavam diferente. As regras, impostas aos filhos, eram duras. Quando chamava algum deles, chamava duas vezes, pois, na terceira, já não tinha perdão.</p>
  62. <p style="text-align: left;">Por ser muito carinhoso, cobrava, de certa forma, também, o carinho e atenção da esposa e dos filhos, ao chegar em casa, do trabalho, e não ser recebido com abraços e beijos.</p>
  63. <p style="text-align: left;">Da minha mãe, herdei o amor imensurável pelos filhos, a fé em Deus, a coragem e a força de seguir sozinha, a sabedoria de poeta que ela sempre foi: “a gente cria filhos é para o mundo”; “não existe idade, existe vida!”; “Prefiro ser viúva de marido morto a ser viúva de marido vivo” (pensava assim porque se sentia amada). E a certeza de que “como a fumaça, tudo passa.”</p>
  64. <p style="text-align: left;">Busco, em mim, o que herdei do meu pai, e me vejo tão emotiva quanto ele; tão urgente na externalização do meu amor, carinho e, também, perdão, quanto ele; tão verdadeira, embora, com isso, às vezes, atropelando a limitação do outro, quanto ele; tão imediatista, no que se refere à disciplina, quanto ele; alegre, comunicativo e empático. Presenciei-o pagando ingresso de futebol para o amigo e levando-o ao Morumbi em seu carro. Dava até o que faltava em casa&#8230;</p>
  65. <p style="text-align: left;">Amava minha mãe. Trazia-lhe, sempre, de muitas cidades, lembranças, chaveiros: “Estive em São José dos Campos e lembrei-me de você. Com muito amor!”</p>
  66. <p style="text-align: left;">“Eu te amo!”&#8230; E expressava, fisicamente e com palavras, esse amor. Era ele quem agendava o salão e a levava. Quem lhe comprava roupas, brincos, batom&#8230;Gostava de circular com ela em todos os lugares, dizia que ela era linda&#8230;</p>
  67. <p style="text-align: left;">Então, quem era meu pai?</p>
  68. <p style="text-align: left;">Foi o primeiro homem que conheci. Alegre e triste. Carinhoso e nervoso. Trabalhador e apreciador dos encontros&#8230;, e, para mim, de grande relevância: casou-se por amor. Enfrentou a frieza e julgamento dos irmãos de minha mãe porque a queria por esposa.</p>
  69. <p style="text-align: left;">Creio que foi feliz nos dezessete anos de casado que viveu, porque foi humano, “demasiadamente, humano!”</p>
  70. <p style="text-align: left;">Uma homenagem à árvore milenar que me fez fruto: minhas raízes!</p>
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  76. <title>O ENCAIXE</title>
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  79. <pubDate>Tue, 21 Jan 2020 17:36:15 +0000</pubDate>
  80. <dc:creator><![CDATA[Fátima Soares]]></dc:creator>
  81. <category><![CDATA[Sem categoria]]></category>
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  84. <description><![CDATA[                              Não sou uma pessoa consumista. Não compro o que não preciso, e mesmo o que preciso é sempre o suficiente, sem sobras supérfluas. Por isso, não sou também de acumular, nem de lamentar perdas, principalmente, de coisas. Porém, confesso que algumas [&#8230;]]]></description>
  85. <content:encoded><![CDATA[<p style="text-align: center;">                  <a href="http://conversaliteraria.com.br/wp-content/uploads/2020/01/IMG_20200121_142416842.jpg" rel="attachment wp-att-452"><img class="alignnone size-medium wp-image-452" src="http://conversaliteraria.com.br/wp-content/uploads/2020/01/IMG_20200121_142416842-225x300.jpg" alt="IMG_20200121_142416842" width="225" height="300" srcset="http://conversaliteraria.com.br/wp-content/uploads/2020/01/IMG_20200121_142416842-225x300.jpg 225w, http://conversaliteraria.com.br/wp-content/uploads/2020/01/IMG_20200121_142416842-768x1024.jpg 768w" sizes="(max-width: 225px) 100vw, 225px" /></a></p>
  86. <p>           Não sou uma pessoa consumista. Não compro o que não preciso, e mesmo o que preciso é sempre o suficiente, sem sobras supérfluas. Por isso, não sou também de acumular, nem de lamentar perdas, principalmente, de coisas. Porém, confesso que algumas coisas, ainda que sem valor, às vezes as mantenho pelo valor afetivo: desenho de filhos, quando pequenos, lembrancinhas feitas por eles na escolinha, dos netos, enfim, miudezas que me comprazem.</p>
  87. <p>Ontem, recebi de uma pessoa que mora sozinha e, por isso, mudou-se para um apartamento menor do que aquele em que estava, algumas louças, cuidadosamente embaladas em várias folhas de jornal, dispostas em duas sacolas. Ocorre que, durante o transporte das duas sacolas para o meu apartamento, ao efetuar a curva no corredor, em direção ao elevador, uma das sacolas bateu na parede do prédio, emitindo, imediatamente, o som de louça quebrada.</p>
  88. <p>Ao abrir, com cautela, cada peça enrolada no jornal, cujo conteúdo eu desconhecia, fui conferindo que nada estava danificado: copos e taças, nem com a mínima lasca. Porém, uma peça maior, muito bem embalada, estava separada da sua parte, também bem acondicionada. A peça redonda, grande, afunilava-se um pouco na borda: é uma compoteira. A última peça que abri, pelo barulho, percebi que, ali ocorrera a quebra. Era a tampa da compoteira. Na hora, pensei: tantos copos, quase dez; também as taças em maior número, e, justamente, apenas uma peça, mais bem embalada do que a própria compoteira que é maior, foi a que quebrou. Resolvi colocar a compoteira na mesinha da sala já imaginando que providenciaria um belo arranjo para compô-la.</p>
  89. <p>Uma hora depois, ao abrir o armário da cozinha para retirar um copo, chama-me atenção uma tampa de vidro, também transparente e do mesmo material que a compoteira recém-adquirida. Ao ver o círculo da grande compoteira repousada na mesa e o tamanho pequeno da tampa, agora em minhas mãos, achei que dificilmente ela me seria útil para tampá-la.</p>
  90. <p>Ainda na cozinha, lembrei-me da longínqua origem daquela tampa.</p>
  91. <p>Há 38 anos, ganhei, de casamento, uma bomboniere redonda que se compunha de três andares de louças sobrepostas, fechadas por aquela tampa, que ficava sobre o meu buffet com guloseimas para crianças, que eu ainda não tinha.</p>
  92. <p>Certo dia, uma pequena, na faixa de 3 anos, com o seu curto bracinho, tentando alcançar um bis, derrubou a compoteira que se estilhaçou, sobrando, apenas, em cima do buffet, a tampa intacta.</p>
  93. <p>Ao recolher os cacos, minha mão alcançou a tampa que, visivelmente sem nenhuma lasca, tive pena de colocá-la entre os estilhaços. Pensei: por que ela haverá de ir para o lixo? Não tem nada que a condene&#8230;Confesso que achei que seria injusto e um desperdício colocá-la no lixo.</p>
  94. <p>Durante todo esse tempo, cada coisa que se quebrava, nada chegava nem perto para que a tampa guardada servisse de reposição. Muitas vezes, pensei em passá-la para frente juntamente às doações que sempre fiz de vasilhames e louças, mas pensava: o que farão com uma simples tampa de vidro? Fosse o pote, ainda teria utilidade, mesmo sem tampa, mas a tampa sozinha não serve para nada.</p>
  95. <p>Recentemente, há dois anos, após a minha separação, quase passei, novamente, a tampa para frente junto a muitas coisas que doei. Entretanto, guardei-a novamente.</p>
  96. <p>Observo atentamente a compoteira que parece me convidar a aproximar-me. Vejo-a de baixo para cima: larga, subindo em uma altura aproximada de 10 cm&#8230;, porém, próximo à borda, percebo que se afunila um pouco.</p>
  97. <p>Com a tampa na mão esquerda, quase que em câmara lenta, vou descendo-a sobre a compoteira e, para o meu espanto, a tampa se encaixou.</p>
  98. <p>Ninguém diria que não pertencia à compoteira: o mesmo material, a mesma cor, era realmente de impressionar.</p>
  99. <p>Concluí: às vezes, alguns relacionamentos se quebram durante a nossa vida e sentimos que o vazio não há de ser preenchido um dia.</p>
  100. <p>Mas eis que a “tampa”, guardada, às vezes, por muitos anos, aparece para nos preencher&#8230;.</p>
  101. ]]></content:encoded>
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  104. </item>
  105. <item>
  106. <title>TUDO E TODOS SÃO EMPRÉSTIMOS</title>
  107. <link>https://conversaliteraria.com.br/?p=442&#038;utm_source=rss&#038;utm_medium=rss&#038;utm_campaign=tudo-e-todo-sao-emprestimos</link>
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  109. <pubDate>Fri, 27 Dec 2019 13:01:49 +0000</pubDate>
  110. <dc:creator><![CDATA[Fátima Soares]]></dc:creator>
  111. <category><![CDATA[Sem categoria]]></category>
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  114. <description><![CDATA[             O ano de 2019 está findando, conforme o calendário criado pelo homem, já que o tempo não se mensura. No balanço que faço do que conquistei e do que perdi, posso me perder em alegrias e angústias, dependendo da maneira como encaro a vida. Após atravessar desertos e tempestades [&#8230;]]]></description>
  115. <content:encoded><![CDATA[<p style="text-align: left;">           <a href="http://conversaliteraria.com.br/wp-content/uploads/2019/12/nao-tenho-controle-sobre-coisas-e-pessoas-tenho-conexoes-1200x628.png" rel="attachment wp-att-444"><img class="alignnone size-medium wp-image-444" src="http://conversaliteraria.com.br/wp-content/uploads/2019/12/nao-tenho-controle-sobre-coisas-e-pessoas-tenho-conexoes-1200x628-300x157.png" alt="nao-tenho-controle-sobre-coisas-e-pessoas-tenho-conexoes-1200x628" width="300" height="157" srcset="http://conversaliteraria.com.br/wp-content/uploads/2019/12/nao-tenho-controle-sobre-coisas-e-pessoas-tenho-conexoes-1200x628-300x157.png 300w, http://conversaliteraria.com.br/wp-content/uploads/2019/12/nao-tenho-controle-sobre-coisas-e-pessoas-tenho-conexoes-1200x628-768x402.png 768w, http://conversaliteraria.com.br/wp-content/uploads/2019/12/nao-tenho-controle-sobre-coisas-e-pessoas-tenho-conexoes-1200x628-1024x536.png 1024w, http://conversaliteraria.com.br/wp-content/uploads/2019/12/nao-tenho-controle-sobre-coisas-e-pessoas-tenho-conexoes-1200x628.png 1200w" sizes="(max-width: 300px) 100vw, 300px" /></a></p>
  116. <p style="text-align: left;"> O ano de 2019 está findando, conforme o calendário criado pelo homem, já que o tempo não se mensura.</p>
  117. <p>No balanço que faço do que conquistei e do que perdi, posso me perder em alegrias e angústias, dependendo da maneira como encaro a vida.</p>
  118. <p>Após atravessar desertos e tempestades que configuram a nossa jornada humana, assim como a dos heróis, cujo objetivo final sempre é a conquista da vitória, percebo que a minha noção de vitória tomou outros rumos e me folgo com isso, afinal, vencer nem sempre significa a conquista do pódio, mas o que foi aprendido e apreendido na travessia. Isso é o que demarca a satisfação ou não que terei ao final da etapa. De todas as etapas: da vida e do final da vida.</p>
  119. <p>Se Deus é o Criador de todas as coisas, logo, tudo e todos pertencem a Ele, e, então, tudo e todos nos foram emprestados por<br />
  120. Ele. E se foi um empréstimo, qual o sentimento que nutro ao ter de devolver?</p>
  121. <p>Ora, o ser humano, geralmente, apropria-se das coisas e, também, das pessoas. Isso é meu; é minha casa; é meu dinheiro; é meu carro; é meu filho; é meu marido; é minha mãe&#8230;</p>
  122. <p>Então, se é meu, ao ser “tomado”, a minha sensação de posse é muito abalada, afinal, ninguém tem o direito de tomar o que é meu. Porém, se vejo tudo como um empréstimo, logo, nada me pertence e tenho de cuidar para devolver “ao dono”, da forma mais original possível que ele me emprestou.</p>
  123. <p>Essa noção ficou muito clara, para mim, quando passei a morar de aluguel. O apartamento não é meu, então, tenho de evitar que algo se deteriore, sob pena de ter de consertar quando eu tiver de me mudar para outro.</p>
  124. <p>Se eu direcionar isso a pessoas, verei que é da mesma forma. Quando temos a posse de algo ou de pessoas, a tendência é nos sentirmos garantidos e não nos preocuparmos muito com a conservação, afinal, se é meu, trato do jeito que eu quero, já que ninguém há de me tirar.</p>
  125. <p>E é perceptível essa realidade: com minha mãe, filhos, companheiro, família, eu tenho o direito de agir do jeito que quero, pois acredito que, como já sabem que somos unidos por esses laços, têm a obrigação de me compreender, de me aceitar e de me perdoar por todos os meus erros.</p>
  126. <p>Já com as pessoas que estabeleço laços que não me dão a garantia de posse sobre elas, procuro ser mais amável, delicada, compreensiva, etc.</p>
  127. <p>Isso vale também para as coisas. Se alguém me empresta algo, a não ser que eu seja um ser que se aproprie até do que não é meu, o meu senso de responsabilidade e justiça me faz cuidar e ser imensamente grata ao devolver o que não me pertence.</p>
  128. <p>Então, se nada e ninguém me pertencem e reconheço que têm um “dono”, buscarei a humildade da aceitação quando, se porventura, me for tirado, seja em vida, seja pela morte dos outros ou a minha, o sentimento que tem de me invadir é de gratidão pelo tempo que tudo me foi proporcionado, e de reconhecimento de que, por não ser o dono, devo devolver, sem revolta, o que nunca me pertenceu.</p>
  129. <p>&nbsp;</p>
  130. <p>Feliz 2020!</p>
  131. <p>&nbsp;</p>
  132. ]]></content:encoded>
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  134. <slash:comments>19265</slash:comments>
  135. </item>
  136. <item>
  137. <title>&#8220;Mais que liberdade, livramento!&#8221;</title>
  138. <link>https://conversaliteraria.com.br/?p=401&#038;utm_source=rss&#038;utm_medium=rss&#038;utm_campaign=mais-que-liberdade-livramento</link>
  139. <comments>https://conversaliteraria.com.br/?p=401#comments</comments>
  140. <pubDate>Wed, 13 Mar 2019 20:14:27 +0000</pubDate>
  141. <dc:creator><![CDATA[Fátima Soares]]></dc:creator>
  142. <category><![CDATA[Poesias]]></category>
  143.  
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  145. <description><![CDATA[Eis o meu livro de poesia &#8220;Mais que liberdade, livramento!&#8221;, agora com o meu nome literário: Fátima Gomes. Qualquer comentário, pode ser publicado aqui. Obrigada!]]></description>
  146. <content:encoded><![CDATA[<p>Eis o meu livro de poesia &#8220;Mais que liberdade, livramento!&#8221;, agora com o meu nome literário: Fátima Gomes.</p>
  147. <p>Qualquer comentário, pode ser publicado aqui.</p>
  148. <p>Obrigada!</p>
  149. ]]></content:encoded>
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  153. <item>
  154. <title>Haydée &#8211; 91 anos</title>
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  157. <pubDate>Sat, 16 Feb 2019 03:04:55 +0000</pubDate>
  158. <dc:creator><![CDATA[Fátima Soares]]></dc:creator>
  159. <category><![CDATA[Sem categoria]]></category>
  160.  
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  162. <description><![CDATA[&#160; &#160; Sentes o coração acelerado pela volta do filho esperado &#160; Acumulas noites maldormidas pela preocupação da ausência sentida &#160; Velas tal qual um anjo da guarda na doença da criança querida &#160; Partilhas amor e dor com todos os filhos dividindo o peso do andor &#160; Transmites a paciência por meio da esperança [&#8230;]]]></description>
  163. <content:encoded><![CDATA[<p>&nbsp;</p>
  164. <p>&nbsp;</p>
  165. <p>Sentes o coração acelerado</p>
  166. <p>pela volta do filho esperado</p>
  167. <p>&nbsp;</p>
  168. <p>Acumulas noites maldormidas</p>
  169. <p>pela preocupação da ausência sentida</p>
  170. <p>&nbsp;</p>
  171. <p>Velas tal qual um anjo da guarda</p>
  172. <p>na doença da criança querida</p>
  173. <p>&nbsp;</p>
  174. <p>Partilhas amor e dor</p>
  175. <p>com todos os filhos</p>
  176. <p>dividindo o peso do andor</p>
  177. <p>&nbsp;</p>
  178. <p>Transmites a paciência</p>
  179. <p>por meio da esperança</p>
  180. <p>com calma e confiança</p>
  181. <p>és toda perseverança</p>
  182. <p>&nbsp;</p>
  183. <p>Distribuis a tua doçura,</p>
  184. <p>com zelo e tal candura,</p>
  185. <p>àquele que teu caminho cruza</p>
  186. <p>&nbsp;</p>
  187. <p>És luz, bálsamo e conforto</p>
  188. <p>nas trevas que envolvem a vida</p>
  189. <p>nas dores que amarguram o sonho</p>
  190. <p>no desespero da perda do outro</p>
  191. <p>&nbsp;</p>
  192. <p>És tudo isso</p>
  193. <p>és mãe, sublime nome</p>
  194. <p>delegada por Deus</p>
  195. <p>para guiar nossos passos</p>
  196. <p>&nbsp;</p>
  197. <p>Ensina-me a tua humildade</p>
  198. <p>Partilha comigo a tua coragem</p>
  199. <p>&nbsp;</p>
  200. <p>Na tua sabedoria,</p>
  201. <p>ensinaste-me a perdoar</p>
  202. <p>a aceitar nas pessoas</p>
  203. <p>o direito de errar</p>
  204. <p>&nbsp;</p>
  205. <p>Mostra-me o caminho</p>
  206. <p>da bondade, da fidelidade,</p>
  207. <p>para quando</p>
  208. <p>na senectude eu chegar,</p>
  209. <p>possam me dar por vencidas</p>
  210. <p>todas as misérias da vida</p>
  211. <p>através da tua experiência</p>
  212. <p>embasada no maior valor</p>
  213. <p>que deste a tua trilha:</p>
  214. <p>Deus</p>
  215. <p>O primeiro, o único</p>
  216. <p>O enigma de tudo!</p>
  217. <p>&nbsp;</p>
  218. <p>Aos completares hoje</p>
  219. <p>noventa e um anos de vida,</p>
  220. <p>quanta alegria contida</p>
  221. <p>no coração dos que te admiram!</p>
  222. <p>&nbsp;</p>
  223. <p>O diploma que tiraste na escola</p>
  224. <p>foi pouco para a tua sabedoria,</p>
  225. <p>mas tiraste na escola da vida</p>
  226. <p>o maior diploma que existe:</p>
  227. <p>Fé indestrutível</p>
  228. <p>Coragem inigualável</p>
  229. <p>Bondade incomensurável</p>
  230. <p>Humildade incomparável</p>
  231. <p>Disponibilidade ilimitável</p>
  232. <p>&nbsp;</p>
  233. <p>Não tiveste saldo bancário</p>
  234. <p>para distribuir,</p>
  235. <p>mas tens amor incontável</p>
  236. <p>para repartir</p>
  237. <p>&nbsp;</p>
  238. <p>No balanço geral do que auferiste</p>
  239. <p>és a maior no saldo de valores</p>
  240. <p>internos, intrínsecos, eternos&#8230;</p>
  241. <p>&nbsp;</p>
  242. <p>A tua maior felicidade</p>
  243. <p>é ver os filhos de bem e bem,</p>
  244. <p>e hoje tu a tens,</p>
  245. <p>pois só por existires</p>
  246. <p>és o nosso maior totem.</p>
  247. <p>&nbsp;</p>
  248. <p>Que Deus continue te iluminando</p>
  249. <p>para que possamos extrair da tua luz</p>
  250. <p>a leveza ao carregar nossa cruz.</p>
  251. <p>&nbsp;</p>
  252. <p>E como não poderia faltar,</p>
  253. <p>uma oração vamos realizar:</p>
  254. <p>agradecer ao Deus criador</p>
  255. <p>pela saúde, a paz e o amor!</p>
  256. <p>&nbsp;</p>
  257. <p>&nbsp;</p>
  258. <p>&nbsp;</p>
  259. ]]></content:encoded>
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  262. </item>
  263. <item>
  264. <title>Quanto Vale uma vida?</title>
  265. <link>https://conversaliteraria.com.br/?p=385&#038;utm_source=rss&#038;utm_medium=rss&#038;utm_campaign=quanto-vale-uma-vida</link>
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  267. <pubDate>Sat, 26 Jan 2019 01:33:44 +0000</pubDate>
  268. <dc:creator><![CDATA[Fátima Soares]]></dc:creator>
  269. <category><![CDATA[Poesias]]></category>
  270.  
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  272. <description><![CDATA[Quanto Vale uma vida? Uma bobagem para uma barragem que, enfurecida, vomita lama, e faz a cama, para quem, agora, eternamente, descansa&#8230; Um desperdício&#8230; E o governo? Não tem nada com isso!]]></description>
  273. <content:encoded><![CDATA[<p>Quanto Vale<br />
  274. uma vida?<br />
  275. Uma bobagem<br />
  276. para<br />
  277. uma barragem<br />
  278. que, enfurecida,<br />
  279. vomita lama,<br />
  280. e faz a cama,<br />
  281. para quem,<br />
  282. agora,<br />
  283. eternamente,<br />
  284. descansa&#8230;</p>
  285. <p>Um desperdício&#8230;<br />
  286. E o governo?<br />
  287. Não tem nada<br />
  288. com isso!</p>
  289. ]]></content:encoded>
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  291. <slash:comments>19849</slash:comments>
  292. </item>
  293. <item>
  294. <title>&#8220;Que não seja imortal, posto que é chama, mas que seja infinito enquanto dure.&#8221;</title>
  295. <link>https://conversaliteraria.com.br/?p=379&#038;utm_source=rss&#038;utm_medium=rss&#038;utm_campaign=que-nao-seja-imortal-posto-que-e-chama-mas-que-seja-infinito-enquanto-dure</link>
  296. <comments>https://conversaliteraria.com.br/?p=379#comments</comments>
  297. <pubDate>Thu, 13 Dec 2018 01:24:11 +0000</pubDate>
  298. <dc:creator><![CDATA[Fátima Soares]]></dc:creator>
  299. <category><![CDATA[Sem categoria]]></category>
  300.  
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  302. <description><![CDATA[Estação do move no horário de rush. A mulher entra no ônibus, com o celular no ouvido, e não fala, apenas ouve, enquanto suas feições vão se alterando. De repente, explode num choro incontido, enquanto enfia o celular dentro da bolsa. Em pé, em meio aos passageiros, ela soluça alto, e eu, assentada, ofereço-lhe o [&#8230;]]]></description>
  303. <content:encoded><![CDATA[<p>Estação do move no horário de rush.</p>
  304. <p>A mulher entra no ônibus, com o celular no ouvido, e não fala, apenas ouve, enquanto suas feições vão se alterando.</p>
  305. <p>De repente, explode num choro incontido, enquanto enfia o celular dentro da bolsa.</p>
  306. <p>Em pé, em meio aos passageiros, ela soluça alto, e eu, assentada, ofereço-lhe o meu lugar, mas ela recusa com a cabeça e a mão, já que não consegue falar de tanto chorar. Pergunto-lhe o que de grave aconteceu.</p>
  307. <p>Descontrolada, ela responde que acabou de saber que o marido a traiu.</p>
  308. <p>Aliviada por saber que não é notícia de acidente ou morte, esboço um sorriso e lhe digo para não chorar porque ela não o merece.</p>
  309. <p>Antes que ela me dirija alguma ofensa pela alteração do seu olhar, explico-lhe: “Nessa situação, geralmente, é clichê as pessoas nos consolarem dizendo que o outro não nos merece, pois somos melhores que ele, etc., etc., mas eu lhe afirmo que é você quem não o merece, porque uma pessoa que age desse jeito, traindo a nossa confiança, não podemos querê-la ao nosso lado, e, muito menos lamentar a sua ausência da nossa vida, afinal, quem quer ao lado alguém que não nos respeita?&#8221;</p>
  310. <p>À medida que me ouve, ela vai se recompondo, enxugando as últimas lágrimas que lhe descem pelo rosto. E, então, eu me descontraio e lhe digo: “Fica assim não, bem. A fila anda e ele não é, de jeito nenhum, o último biscoito do pacote”. Aí, ela já sorri, mas, séria, me responde: “é que hoje também é o meu aniversário”.</p>
  311. <p>Imediatamente, ergo-me da cadeira e convoco os passageiros:</p>
  312. <p>“Pois então, vamos comemorar, meu bem, a nova vida que está chegando para você”, e começo a bater palmas, iniciando um “parabéns pra você”, que vai se somando às palmas dos outros passageiros.</p>
  313. <p>E, então, um homem se aproxima, abraça a moça, e o coro que se faz, dentro do ônibus, a descontrai, embora encabulada:</p>
  314. <p>“Beija, beija, beija&#8230;”</p>
  315. <p>E ele toma o rosto dela entre as suas mãos, fita seus olhos, e, suavemente, deposita um beijo em sua boca, com uma salva de palmas de todos.</p>
  316. <p>Conversam durante todo o trajeto, quando resolvem descer perto de uma pracinha em frente a um boteco.</p>
  317. <p>Finjo que ali é o meu ponto e desço também.</p>
  318. <p>Ela assenta-se no banco da praça, enquanto ele retorna do bar com a cerveja, os copos e uma vela grossa que conseguiu do dono.</p>
  319. <p>Ela retira a aliança, põe sobre o banco, enquanto ele acende a vela.</p>
  320. <p>Acesa, a moça segura-a sobre a aliança, despedindo-se do finado casamento, enquanto concluo que, ao mesmo tempo, a “vela” do homem se acende&#8230;.</p>
  321. <p>“Que não seja imortal, posto que é chama, mas que seja infinito enquanto dure&#8230;”</p>
  322. <p>&nbsp;</p>
  323. <p>&nbsp;</p>
  324. ]]></content:encoded>
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  326. <slash:comments>27957</slash:comments>
  327. </item>
  328. <item>
  329. <title>A cena é única. Diferentes são os olhares de quem a vê</title>
  330. <link>https://conversaliteraria.com.br/?p=374&#038;utm_source=rss&#038;utm_medium=rss&#038;utm_campaign=a-cena-e-unica-diferentes-sao-os-olhares-de-quem-a-ve</link>
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  332. <pubDate>Tue, 10 Jul 2018 14:42:58 +0000</pubDate>
  333. <dc:creator><![CDATA[Fátima Soares]]></dc:creator>
  334. <category><![CDATA[Sem categoria]]></category>
  335.  
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  337. <description><![CDATA[&#160; Inverno em Belo Horizonte. O mês é julho. Terça-feira à tarde, hora em que o sol já se afastou da piscina não aquecida do prédio. Moro aqui há quatro meses e, embora o pessoal da manutenção de piscinas venha diariamente, percebo que a água já baixou quatro azulejos. Estou varrendo a varanda e vejo [&#8230;]]]></description>
  338. <content:encoded><![CDATA[<p>&nbsp;</p>
  339. <p>Inverno em Belo Horizonte. O mês é julho. Terça-feira à tarde, hora em que o sol já se afastou da piscina não aquecida do prédio. Moro aqui há quatro meses e, embora o pessoal da manutenção de piscinas venha diariamente, percebo que a água já baixou quatro azulejos.</p>
  340. <p>Estou varrendo a varanda e vejo o zelador, um senhor idoso (provavelmente, o especialista) e um rapaz sem camisa dentro da piscina, com a água chegando próximo ao seu peito, em frente aos azulejos. Sinto por ele, pelo seu trabalho: a água fria, o tempo frio e nenhuma toalha por perto.</p>
  341. <p>Na manhã seguinte, desço para buscar o jornal na portaria. Antes de me aproximar, ouço, ao retornar para o meu apartamento, uma moradora conversando com o porteiro, apenas as seguintes frases: “mas por que ele estava lá dentro? Precisava?” E, rapidamente, o porteiro tenta justificar, mas foi interrompido: “as últimas chuvas&#8230;” E a mulher emenda: “Absurdo! Eu não entro mais lá.”</p>
  342. <p>Deixei para buscar o jornal depois.</p>
  343. <p>Fiquei chocada e, para encerrar, lembrei-me de que o funcionário é negro.</p>
  344. ]]></content:encoded>
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  347. </item>
  348. <item>
  349. <title>Viraremos pó da mesma cor</title>
  350. <link>https://conversaliteraria.com.br/?p=357&#038;utm_source=rss&#038;utm_medium=rss&#038;utm_campaign=357</link>
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  352. <pubDate>Thu, 21 Dec 2017 11:32:45 +0000</pubDate>
  353. <dc:creator><![CDATA[Fátima Soares]]></dc:creator>
  354. <category><![CDATA[Sem categoria]]></category>
  355.  
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  357. <description><![CDATA[Belo Horizonte, 20 de dezembro de 2017, às 20h20. Estou dentro do move lotado, com destino à Pampulha. Não consegui atravessar a roleta e paro ao lado da cobradora que conversa com o passageiro sentado à minha frente. Estou em pé. Antes de chegar à Estação Lagoinha, ela pergunta quem vai pagar com dinheiro. Sou [&#8230;]]]></description>
  358. <content:encoded><![CDATA[<p><img src="http://missasalette.com.br/site/wp-content/themes/awake/lib/scripts/thumb.php?src=http://missasalette.com.br/site/wp-content/uploads/2015/02/quarta-feira-de-cinzas_.jpg&amp;w=882&amp;h=373&amp;zc=1&amp;q=100" alt="" /></p>
  359. <p>Belo Horizonte, 20 de dezembro de 2017, às 20h20.</p>
  360. <p>Estou dentro do move lotado, com destino à Pampulha. Não consegui atravessar a roleta e paro ao lado da cobradora que conversa com o passageiro sentado à minha frente. Estou em pé. Antes de chegar à Estação Lagoinha, ela pergunta quem vai pagar com dinheiro. Sou uma delas e já garanto a passagem, sob a argumentação aos passageiros que precisa esconder o dinheiro, pois o ônibus sofreu um assalto ontem ou antes de ontem ao parar nessa estação.</p>
  361. <p>Nessa estação, dois rapazes estão aguardando a abertura das portas para entrar no ônibus. O primeiro, ao colocar apenas um pé, é surpreendido pela arrancada leve do ônibus, pelo motorista, e grita: “Ô, motorista, você tá louco? Ainda não entramos, o meu irmão está atrás de mim.” Para a minha surpresa, o motorista começa a gritar uma série de desaforos e palavrões aos dois rapazes, que negam serem vagabundos, marginais, etc., etc.</p>
  362. <p>Não satisfeito, o motorista, dirigindo, continua a desafiá-los e faz contato com os seguranças da próxima estação para recolherem os marginais. O ônibus para na estação e eu atravesso rapidamente a roleta, ao mesmo tempo que digo: “se eles forem, vou com eles. É injusto. Os rapazes não fizeram nada. Não vou deixá-los sozinhos nessa.”</p>
  363. <p>Uma moça e um rapaz saem do ônibus comigo. Quatro seguranças armados os esperam, mas, antes que coloquem as mãos nos rapazes, entro na frente e explico que são inocentes. O motorista está ao meu lado e diz que os rapazes o ofenderam e não diz que ele os ofendeu e nem que colocou os passageiros em risco, dirigindo berrando e provocando os rapazes, além de acrescentar, olhando para mim: “é sempre assim, o passageiro é contra o motorista”. Um dos seguranças pede silêncio e quer me ouvir.</p>
  364. <p>Explico a ele que entendo o estresse do motorista, a insegurança que vive diariamente, o cansaço, mas isso não dá a ele o direito de se empoderar por ser o condutor do ônibus e ter guarita para se defender, ofendendo os rapazes da forma que estava fazendo, muito menos pedir que eles sejam conduzidos pela polícia.</p>
  365. <p>Um dos rapazes dá a mão ao motorista e lhe pede desculpas. O motorista não lhe pede desculpas.</p>
  366. <p>Voltamos ao ônibus.</p>
  367. <p>Os dois passageiros que desceram comigo disseram que me acompanharam porque “unidos somos força”. E eu fiquei pensando: sim, somos, mas em meio a mais de quarenta pessoas que presenciaram a injustiça, apenas três (considerados brancos) evitaram que ela acontecesse.</p>
  368. <p>Não somos um país preconceituoso?</p>
  369. <p>Os dois rapazes são negros. O motorista também.</p>
  370. <p>O “muito obrigado” dos rapazes, dirigidos a mim, até na hora de descerem em seu destino, me engasgou, me entalou. Obrigado de quê? Vocês não fizeram nada, sou tão humana quanto vocês, vamos virar pó do mesmo jeito e, indubitavelmente, pó da mesma cor&#8230;</p>
  371. <p>&nbsp;</p>
  372. ]]></content:encoded>
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